segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"A mulher no sistema carcerário"


Breves reflexões

"Às vezes a idéia vem e me tonteia. É o barato da idéia. Trago bom de saudade e a presença de algo jamais esquecido.
Suor. Movimentos musculares. Dedicação. Enxugo suor e as lágrimas.
Estas furtivas, aquele despudorado. É o prazer vertido em gotas.
Fluxo de feminino dentre os poros. Não sangro mais, verto!!"

O encontro "A Mulher no Sistema Carcerário" foi obra do desejo de várias mulheres, advogadas, juízas, psicólogas e operadoras do direito voltadas à causa das presidiárias brasileiras. O preparo do encontro foi cuidadoso e resultou em profícuo espaço de troca de idéias, conhecimento e de pensar soluções. Quis aqui, deixar fixadas minhas considerações, mais de cunho emocional do que técnico, de tal encontro. Findo o evento, conversei com vários participantes e, pude notar que, somado ao sucesso técnico, calou fundo na alma uma sensação cinza, estática, de encontro com a face abjeta da dor. Vozes denunciaram: uma presidiária, devidamente algemada, deu à luz a um filho; outra, grávida de gêmeos, perdeu os filhos no parto, já que o médico, por telefone, diagnosticou suas dores como "mera dor de barriga"; mães presidiárias ficam algemadas durante visitas de filhos e familiares; outras, têm vaga notícia de seus filhos, os quais teriam sido postos em família substituta sem que elas tivessem tomado conhecimento de qualquer ação judicial de seu interesse.

Na sutileza da perversão de um sistema presidiário, que desrespeita o homem preso, que parcela cabe às mulheres presas que são obrigadas ao uso de uniforme semelhante ao deles? Calças compridas, sempre. Nada de uso de saias! Nada de olhar-se no espelho e ver-se mulher, quiçá ser mãe, quiçá ter desejos. Nada de "estereótipos" femininos. Nada de sonhos, de auto reconhecimento como ser humano e ser mulher! Atenção, aquela que der um beijo, contido que seja, em seu marido ou companheiro durante uma visita, será castigada! Aquela que dividir amor e respeito com outrem, dentro da prisão, será alijada de tal companhia e, os futuros encontros serão devidamente negociados com quem detém o poder de abrir e fechar portas de uma prisão ($$$). Emoções! Nenhuma. Só o seco engolir do ódio de estar presa por tráfico e assistir ao tráfico dentro do presídio! Ora, ora, é de lascar! Bem questionou o filósofo: é triste o homem porque vive ou porque morre? Por que vive, é claro! Não se pode cogitar da felicidade, como obra humana ou divina, quando se tem, bem perto, ao lado mesmo, tanta dor, tanta desolação! Ah! e como agir, como atuar com um barulho desses?! Ah, como ser juiz, dizer o direito, interpretar a vida e os fatos, medir a pena, aplicá-la em doses corretas e fazer realizar seu justo e correto cumprimento?! Melhor desconhecer esses fatos, e apenas voltar os olhos e o contrito coração a torres que caem?! Melhor esquecer?! Ou lutar?! Ou ousar mudanças! Trocar verbos, adjetivos e humanizar decisões legítimas! Pois é, dá o que pensar. Pensemos, então.

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